CRESCER É PRECISO?
Qual tamanho queremos para nossa cidade? A questão exige uma profunda reflexão, principalmente agora com esta recente tragédia no litoral norte. Todo começo de ano é sempre assim, chuva, chuva e cada vez mais chuva. Por incrível que pareça, todo avanço tecnológico não é capaz de cessar essas tragédias, que continuam sendo recorrentes.
A região Sudeste é a mais pujante do Brasil, não coincidentemente, palco das piores tragédias naturais causadas pelo excesso de chuvas nos últimos anos. Não é difícil recordá-las: Litoral Norte em 2023, Petrópolis e Espírito Santo em 2022, Belo Horizonte 2020, São Luiz do Paraitinga e Ilha Grande em 2010, e muitas outras.
Afinal, a culpa é de quem? Podem ser evitadas?
A primeira resposta é óbvia, as fortes chuvas são mais frequentes no verão, justamente por conta do clima, porém, esse fato isoladamente não deveria ser o responsável por tantas tragédias reiteradas. Sim, é chato e repetitivo, mas o aquecimento global e em consequência disto, a mudança climática, causada pelo comportamento dos seres humanos é sim fator direto desta causa. Isto é muito claro naquela imagem do início da pandemia, onde a quarentena manteve todos em casa, e até peixes voltaram a ser vistos em alguns rios.
A segunda resposta é a tal da política pública, que obriga os municípios, estados e governo federal atuarem de modo responsável no quesito urbanização. Por meio dela é possível mensurar a estrutura necessária afim de que episódios como este não aconteçam. Permeabilização de grandes áreas, como criação de parques e menor desmatamento, são fundamentais para que a chuva passe pelo solo e seja absorvida de modo a não causar acúmulos. Além da recuperação de matas ciliares, respeito a área de várzea, e implantação de políticas habitacionais que viabilizem saída de moradores de zonas de risco.
É claro que todos queremos desfrutar do progresso, mas esse não pode ser atrelado exclusivamente ao crescimento urbano desenfreado, à exploração imobiliária e a criação de subempregos. Uma cidade próspera é uma cidade com excelente qualidade de vida: segurança, saúde, educação, cultura e lazer, são fundamentais. Enfim, a sadia qualidade de vida que preceitua o artigo 225 da nossa Constituição e a que todos temos não só o direito, mas também a obrigação de preservar.
Gerar receitas é importante sempre, tanto para o particular como para o poder público, mas a que custo, deve ser a reflexão sempre. Acompanhei muito de perto o que aconteceu com o litoral norte nas décadas de 90 e 2000. A cada ano mais e mais empreendimentos imobiliários surgiam. A cada temporada surgia uma novidade de modo a atender a alta demanda de turistas e investidores. Aos poucos o cenário foi ficando caótico e era clara a sensação de que aquilo uma hora ou outra resultaria em tragédia. Foi assim, infelizmente. Por aqui temos a revisão do Plano Diretor, ótima oportunidade de exigir das autoridades melhor planejamento para que nossa Cidade Azul, permaneça sempre azul.
Drº Alexandre Carrile – Com. Meio Ambiente e Dir. Difusos