O PRECONCEITO DE BEBETO

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Quem acompanhou a copa do mundo de 1994, na qual o Brasil sagrou-se campeão, testemunhou uma dupla de ataque que atuava em perfeita sintonia e complementariedade, além de grande companheirismo.  Bebeto e Romário.

Toda a amizade e glorias conquistadas naqueles tempos dão lugar, agora, a desafeição e hostilidade. Bebeto, nesse clima de agressividade, em resposta a Romário que o havia chamado de traidor, respondeu prontamente “O ROMÁRIO ESTÁ FICANDO VELHO E ACHO QUE ESTÁ FICANDO ESCLEROSADO, FALANDO MUITA BESTEIRA…

Infelizmente Bebeto revelou o preconceito em relação a pessoa idosa que perdura em nossa sociedade, por conta de um estereótipo de decadência, invalidez, debilidade, inatividade ou incapacidade.

A simples palavra utilizada “velho” ao se referir a pessoa idosa já vem carregada de conceitos pejorativos, como algo gasto pelo uso ou que está fora de moda, antiquado, obsoleto, ultrapassado.

A fala do Bebeto manifesta de imediato que “ficar velho” é ruim, uma vez que a pessoa passa a falar besteiras ou fica esclerosada. Ele poderia dizer simplesmente que Romário está falando muito besteira ou Romário está esclerosado, mas, inconscientemente presumo, colocou na frase a palavra “velho”, reforçando o estereótipo. Essa declaração revela os preconceitos que boa parte da população tem em relação a pessoa idosa.

Esse preconceito é chamado de etarismo, ageismo ou idadismo, que é a descriminação da pessoa unicamente em razão da sua idade. O etarismo é tão cruel e prejudicial quanto o racismo, misoginia, gordofobia, sexismo, e outros tantos que ainda atrapalham a sociedade brasileira a ser justa, fraterna e promotora da dignidade humana.

Além disso um dos aspectos mais perversos do etarismo é o fato de que ele, geralmente, se manifesta sem a consciência ou intenção de atingir a pessoa idosa, o que parece ter acontecido no caso do Bebeto.

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, declarou que os estereótipos, preconceitos e discriminações baseados na idade podem “limitar as oportunidades de garantir a saúde, o bem-estar e a dignidade das pessoas mais velhas”.

Por isso é necessário prestarmos atenção na forma como utilizamos a nossa linguagem em relação à palavra “velho” e à pessoa idosa, pois são frequente as expressões: “determinada roupa deixou alguém com aparência de “velho”, isso é coisa de “velho” ou então usar vocabulário mais simples e também atitudes como falar alto ou devagar com a pessoa idosa ou tratá-la com diminutivos (tiozinho, vozinha, senhorzinho, etc.).

Outro aspecto do etarismo é o fato de pessoas idosas serem ridicularizados ou criticadas, principalmente quando vão de encontro a posturas que lhe são tradicionalmente atribuídas, como quando vestem-se “como jovem” ou em manifestações de desejo sexual.

Temos a legislação garantidora dos diretos da pessoa idosa, capitaneada pela Lei 10741/2003 (Estatuto da pessoa idosa) que entre outras normativas estabelece que nenhuma pessoa idosa será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão. E ainda mais, estabelece que é dever todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos da pessoa idosa.

Dessa forma é necessário assumirmos o nosso dever de zelar pelos direitos da pessoa idosa.  Um bom início estará na consciência de nossas atitudes e linguagem para não usarmos expressões ou ações que reforcem estereótipos negativos da pessoa idosa como fez o jogador Bebeto.

 

Drº Sergio Dalaneze – Membro da Comissão do(a) Advogado(a) e idoso(a) e idosos(as) da Subseção da OAB de Rio Claro/SP.

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