A Última Ceia

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Ionita de Oliveira Krugner

 

A ceia de Natal tem como característica a união das famílias, momento de celebrar a confraternização, o amor e a esperança.

No entanto, algumas ceias brasileiras foram marcadas por condutas violentas que revelaram o comportamento de uma sociedade doente, evidenciada pela prática de crimes brutais contra mulheres.

Crimes que atingem qualquer faixa etária e classe social, cometidos por homens, com crueldade e tomados pelo ódio.

Dentre eles estão o da magistrada Viviane Vieira Amaral Arronezi, de 45 anos, no Rio de Janeiro, golpeada até a morte pelo seu ex-marido na noite de Natal, diante de suas filhas menores, golpes de faca que levaram a juíza a óbito em via pública. O caso da doméstica Jenilde de Jesus Pinheiro, de 24 anos, igualmente golpeada até a morte, em Mundo Novo/BA, também diante de suas filhas menores, pelo seu ex-marido, que invadiu a sua residência.

Crimes como os de Jaraguá do Sul/SC, em que a jovem Thalia Ferraz, de 23 anos, foi morta dentro de sua casa pelo ex-companheiro, na frente de seus familiares, e o da cabeleireira Anna Paula Porfirio Santos, de 45 anos, no Recife, morta por seu marido, no quarto do casal, ambas atingidas por disparo de arma de fogo.

A morte de mulheres é o último grau de violência sofrida por elas. É denominado feminicídio e consiste no assassinato cometido em razão de gênero, quando a vítima é morta por ser mulher.

Gera impacto em toda a família, atinge especialmente as venção previstos na Convenção para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (CEDAW, 1979), na Convenção de Belém do Pará, celebrada em 1994 e promulgada pelo Decreto nº 1.973/96, Constituição Federal da República, e Lei Maria da Penha, criada para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra as mulheres.

Os feminicídios da última ceia escancaram a epidemia do quadro de violência doméstica no Brasil e a necessidade urgente de recursos para garantir a efetividade dos mecanismos de prevenção existentes e o compromisso de fortalecer o enfrentamento à violência da rede pública.

Em Leme/SP, aconteceu o feminicídio de Marlene Ruy Montanholi, de 68 anos, que foi atacada com golpes de marreta.

Outros dois casos de feminicídios aconteceram no interior de São Paulo, em Casa Branca, com a morte de Luciane Carla de Lima, de 29 anos, e em Américo Brasiliense com a morte de Carolane Moreira Almeida, de 18 anos, que tentou proteger a mãe, Gileide de Souza Moreira, dos golpes de faca de seu ex.

São Vivianes, Jenildes, Thalias, Annas, Marlenes, Lucienes, Carolanes e outras mulheres que, em razão do comportamento repulsivo de certos homens, pagaram com suas vidas o fato de eles não aceitarem o fim do relacionamento, a perda do controle e da propriedade sobre elas.

(A autora é advogada, pós-graduada em Direito Econômico e Desenvolvimento/USP, coordenadora regional da Comissão da Mulher OAB/SP e conselheira)

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